quinta-feira, 10 de junho de 2010

As comparações são odiosas

A SCImago Institutions Rankings (SIR) publicou em 2009 o relatório “ Institutions Rankings (SIR): 2009 World Report”. O relatório inclui um “ranking” de mais de 2000 das melhores instituições e organizações (governamentais, ensino superior, saúde, cooperativas e outras) a nível mundial (para um total de 84 países dos 5 continentes), que ultrapassaram as 100 publicações no período de 2003 a 2007. A base de dados utilizada foi da Elsevier's database Scopus, num total de 17000 publicações, maioritariamente em revistas e proceedings. A posição e ordem das instituições portuguesas é a seguinte:

 314 – Universidade Técnica de Lisboa
 327 – Universidade do Porto
 483 – Universidade de Lisboa
 545 – Universidade de Coimbra
 611 – Universidade de Aveiro
 665 – Universidade Nova de Lisboa
 763 – Universidade do Minho
1251 – Universidade do Algarve
1600 – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
1687 – Instituto de Telecomunicações
1713 – Hospital de São João
1763 – Universidade de Évora
1794 – Hospital de Santa Maria
1900 – Universidade Beira Interior

A lista dos dez primeiros é a seguinte:

 1 - Centre National de la Recherche Scientifique - França
 2 - Chinese Academy of Science - China
 3 - Russian Academy of Sciences - Federação Russa
 4 - Harvard University - EUA
 5 - Tokyo Daigaku - Japão
 6 - Max Planck Gesellschaft - Alemanha
 7 - University of Toronto - Canada
 8 - National Institutes of Health - EUA
 9 - University of California, Los Angeles - EUA
10 - University of Michigan, Ann Arbor - EUA

A título de curiosidade, uma vez que há uma portuguesa e ancestral excitação de comparação com a Espanha, entre as diversas instituições espanholas que fazem parte da lista, o Consejo Superior de Investigaciones Cientificas ocupa um honroso 11º lugar, a terceira instituição europeia a aparecer na lista.

Das 2124 instituições que compõem a lista, não aparecem a Universidade Católica Portuguesa, Universidade dos Açores, a Universidade da Madeira nem qualquer Instituto Politécnico!

É verdade que todas as comparações são odiosas! Principalmente quando se comparam coisas que não são comparáveis. Outros critérios poderão ser utilizados, defenderão uns. Talvez o período (2003-2007) não seja o melhor, dirão outros! Interpretações (principalmente de estatísticas) existem várias e muitos são os “especialistas” dispostos a efectuá-las. Rankings? Cada um pode fazer o que melhor lhe aprouver… Agora bem, seja qual for o objectivo, um ranking deve ser estabelecido sobre critérios objectivos, que todos reconheçam como válidos e principalmente credíveis. Ora a Elsevier's database Scopus é hoje, amplamente utilizada para os mais diversos fins, mas principalmente para reconhecer o que de melhor se publica, nas mais diversas áreas, não deixando dúvidas em relação ao rigor dos métodos utilizados, baseados em índices de produção científica, de publicações resultantes de colaboração internacional de instituições, qualidade científica medida através do factor de impacto (Primeiro Quartil ordenadas pelo indicador SJR). Não parecem, portanto, existir razões para não aceitar o ranking como válido, pelo menos como ferramenta para interpretação do estado da ciência a nível mundial.

Se a posição das instituições portuguesas não é “preocupante”, se o facto de não aparecerem algumas universidades e nenhum instituto politécnico não é relevante, já o mesmo não se pode dizer em relação ao discurso oficial sobre a matéria do máximo responsável pela investigação em Portugal. Mariano Gago, afirmou recentemente nos mais diversos fóruns “que Portugal atingiu resultados históricos no que respeita à investigação e ao desenvolvimento” que “Portugal tem, nesta altura, mais investigadores do que a média da União Europeia” que “a despesa total em investigação e desenvolvimento que atingiu um e meio por cento do PIB em 2008, que supera os níveis de Espanha e da Irlanda” que "Portugal é um dos países da OCDE com crescimento mais rápido na área científica" que "a situação portuguesa é excepcional” e Portugal é um dos países da OCDE com "crescimento mais rápido na área científica, seja em que parâmetro medirmos, desde o número de artigos em publicações científicas, ao número de cientistas no activo”. Ao mesmo , Mariano Gago garante que a “pirataria é uma fonte de progresso”…

Normalmente aplaudido pela sua “corte celestial”, o ministro mostra uma “fotografia” da ciência em Portugal, na qual não coincide “a cara com a careta”! Senão, a ser assim, o que justifica a posição no ranking das instituições portuguesas? Porque não haverá correspondência entre o discurso oficial e as estatísticas? Será erro de interpretação? Dada a competência em analisar as estatísticas do Eurostat, recentemente demonstrada pelo Secretário de Estado do Emprego, não será melhor que Mariano Gago peça ajuda ao seu colega do governo Valter Lemos?

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