quarta-feira, 30 de junho de 2010

“Bode expiatório”

Dada a minha preferência pelas cabras, sempre entendi a expressão “bode expiatório” como uma homenagem à espécie que foi, e muitas vezes ainda é, injustamente utilizada como imagem do mal e da desgraça, em contraponto ao seu parente próximo, a ovelha, que apesar de igualmente querida para mim, é demasiado dócil, inocente e subserviente para o meu gosto.

Os católicos fizeram da cabra, mais concretamente do macho cabrío, símbolo do pecador, personificando nele muitas vezes o diabo, pela sua altivez, quando comparado ao cordeiro que pela sua docilidade o fizeram símbolo dos crentes com a expressão “cordeiros de Deus”. Na realidade os ovinos possuem instinto gregário, muito mais de acordo e ao gosto dos seguidores de algo.

Assim, a cabra foi desde sempre uma espécie muito mais sacrificada do que a ovelha, o que justifica o facto de estar muito mais representada nos achados de ossadas de templos do antigo Egipto, de lugares de culto de Gregos que a imolavam a Zéus, enquanto romanos o faziam a Júpiter e lacedemonios a ofereciam a Juno e a Apolo. De todas as actividades de culto, uma das mais justificadas pelos Gregos, era o sacrifício a Dionísio do bode, por este ser devastador de vinhedos o que parece igualmente ter sido extensivo à ebriedade de romanos a Baco, o que  hoje explica a má relação que se vive entre cabras e vinhedos, a não ser o facto de um bom cabrito assado acompanhar um bom tinto…

Pelo seu simbolismo a expressão “bode expiatório” chegou até aos nossos dias para designar todos aqueles a quem se impunham culpas próprias segundo uns e alheias segundo outros, ainda que, parece ser que o bode que terá dado origem à expressão, terá sido sacrificado por um pecado que nem ele sabia qual foi…

Hoje, maioritariamente para os media, o termo “bode expiatório” é, ainda que impropriamente, usado para acusar e encontrar responsáveis por algo indevido ou indesejável que aconteceu.

Ontem Portugal foi eliminado pela Espanha do campeonato e mundo de futebol. Não demorou 30 minutos a ser encontrado um “bode expiatório” para o episódio. Debaixo do calor da derrota, Cristiano Ronaldo respondeu a um jornalista que lhe perguntou por razões para o ocorrido, ao que o “incauto” jogador respondeu “perguntem ao Carlos Queirós”. Apressou-se António Simões a condenar o jogador. Queirós, numa atitude condenavelmente ameaçadora, disse posteriormente que “não iria esquecer” o que Ronaldo disse. Estava encontrado o primeiro “bode expiatório”…Veremos quem será sacrificado!
Como sempre, também desta vez, independentemente da existência de "bode expiatório" ou não, a culpa morrerá solteira! Jamais saberemos o que na realidade aconteceu na operação África do Sul 2010...
Já antes tinha dito "I also gotta feeling"

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